No Papo com Perito de hoje vamos conhecer um pouco da história e rotina do Perito Dr. Marek Henryque Ferreira Ekert, Biomédico, que atualmente é Perito Criminal do Estado de Alagoas, do Laboratório de Genética Forense. Simbora!!

Olá, Marek! Obrigada por topar colaborar com a coluna! Você pode contar um pouco de você primeiro? Cidade natal, em que e onde se formou, quando entrou para a Perícia, onde está trabalhando no momento (cidade, setor), se está cursando ou cursou alguma pós-graduação, outras atividades (ex. dar aulas, palestras etc.).

Olá Leilane, inicialmente parabéns pela sua atuação no âmbito da divulgação da nossa profissão. Para mim é uma honra e satisfação poder participar da sua coluna, tendo a oportunidade de falar um pouco sobre a minha experiência profissional, na qual consegui agregar a biomedicina e a perícia criminal.

Bem, sou de Recife, me graduei em Biomedicina pela Universidade Federal de Pernambuco e entrei para o cargo de perito criminal na Perícia Oficial de Alagoas em 2015.

Sou especialista em Perícia e Genética Forense, pela Faculdade dos Guararapes; Mestre em Ciências Biológicas, pela Universidade Federal de Pernambuco e Doutor em Biologia Aplicada à Saúde, com ênfase em genética e biologia molecular, também pela Universidade Federal de Pernambuco.

Coordeno a pós-graduação de Perícia Criminal e Ciências Forenses do Centro Universitário Tiradentes (Unit), em Maceió, sou revisor científico da Revista Brasileira de Criminalística (setor de genética forense) e, sempre que possível, palestro em eventos acadêmicos e científicos pelo país, exaltando a Biomedicina e a Perícia Criminal.

Atualmente estou no laboratório de genética forense da Perícia Oficial de Alagoas, em Maceió.

O que te levou a escolher a Perícia Criminal? E como foi sua preparação para o concurso?

Essa é realmente a grande pergunta. Porque Perícia Criminal? A resposta: é apaixonante!! Desde pequeno, sempre tive curiosidade para tudo, no sentido de sempre procurar a resposta para os questionamentos que tomavam a cabeça. No início dos anos 2000, com o início da série americana CSI, foi que tudo veio à tona e, a minha escolha estava tomada: ser perito criminal. A grande questão foi: o que é preciso para ser perito criminal? Foi então que comecei a pesquisar e só a partir desse momento foi que percebi que era preciso fazer um concurso público. Não tinha outra alternativa: estudar, estudar e quando cansava, estudar mais um pouco.

Iniciei os estudos para o concurso de perito criminal, ao final do meu mestrado, e se estenderam até a metade do doutorado, quando obtive a aprovação no concurso para Alagoas. Foi um período bem complicado: as adversidades que a vida já impunha na época, a conciliação com as pós-graduações e o cansaço. Não fui para nenhum cursinho presencial, os estudos eram em casa, geralmente às noites e madrugadas, através de vídeo-aulas e muita busca (cuidado com as buscas) de cunho acadêmico em bibliotecas e na internet. Essa preparação durou quase dois anos até aprovação, em 2014.

Porque Perícia Criminal? A resposta: é apaixonante!!

Quais as principais atividades desenvolvidas por um Perito formado em Biomedicina?

Bem, existem vários campos de atuação da perícia criminal, nos quais o biomédico pode atuar. Basicamente a área depende de dois fatores: estrutura física suficiente do órgão e especialidade do profissional. Temos, pelo Brasil, biomédicos atuando na morte violenta, na balística, na área ambiental, na química e na toxicologia, na biologia, além, claro, da genética forense.

Eu por exemplo, atuei por quase dois anos na morte violenta e agora estou no laboratório de genética forense, que é de fato a área que eu amo e sempre almejei desde os tempos de universidade e da preparação para o concurso.

Ao estudar para concursos, aprendemos sobre diversos exames pericias e na teoria é como se “tudo fosse possível”, semelhante ao que ocorre na ficção. Qual a relação do que se aprende para concursos quanto ao que é aplicado na realidade da prática pericial? Por exemplo, com relação a exames para identificação de manchas de sangue, pelos e cabelos, tecnologia de DNA mitocondrial para identificação humana, etc.

A grande maioria das teorias que são apresentadas na ficção, principalmente nas séries que envolvem o tema: perícia, de fato podem ser aplicados na prática. Os grandes gargalos para a aplicação prática, principalmente no Brasil, são dois: infraestrutura, no que diz respeito a equipamentos e instalações de ponta e, recursos humanos. Em nosso exemplo de Alagoas, são apenas dois peritos criminais no laboratório de genética forense, para atender toda a demanda de solicitação de exame de DNA (identificação humana, confronto de vestígios e crimes sexuais) do estado. Dessa forma, em algumas situações fica um grande lapso temporal da teoria para a prática. Toda a diversidade de exames que envolvem a genética forense pode ser aplicado na prática sim. No meu caso, o cargo pretendido foi: biologia/biomedicina, o edital foi bem razoável no que compete as teorias que estão sendo aplicadas na prática. Toda a teoria de genética básica, bioestatística, genética de populações e técnicas de biologia molecular são usadas. Houve apenas a área ambiental, que foi objeto do edital, que não utilizamos aqui ainda, pois não temos o setor de perícias ambientais ainda.

 

Como funciona na Polícia Civil do Alagoas a escolha para ser perito de campo ou de laboratório?

Em nosso caso, a perícia criminal de Alagoas não faz mais parte da Polícia Civil, somo um órgão da segurança pública autônomo, chamado: Perícia Oficial de Alagoas. Após o fim do concurso e do curso de formação, todos os “novos peritos” passam pelo setor de perícias externas, que inclui: morte violenta, acidentes de tráfego e patrimônio. Após alguns meses, a depender da necessidade do órgão e da especialidade do perito, este é cedido para os respectivos laboratórios.

 

Houve algum caso em que você trabalhou que te marcou de alguma forma?

Sim, muitos. Quando no setor da externa, na morte violenta, os casos que envolvem violência contra criança sempre marcam, é inevitável. Certa vez houve um caso de incêndio acidental, no qual a única vítima da ocorrência foi uma criança de 3 anos. É muito triste.

Agora, no setor da interna, no laboratório de genética forense, os casos de crimes sexuais sempre marcam e, contra criança mais ainda. Houve um, no qual o acusado já estava preso há mais de 2 anos e, após ser feito o exame de DNA, verificou-se o perfil genético de outra pessoa, e não o dele. Esse caso ainda está em aberto, pois não foram encontrados mais suspeitos para fazermos a comparação. E o pior, uma vida foi ceifada e o agressor ainda está a solta.

 

Quando estava no local do crime, já houve divergência entre seu laudo e o do médico legista? Se sim, como resolveram? Há uma boa comunicação entre o Instituto de Criminalística e o IML?

Durante o período no qual passei no setor da morte violenta, não tive a experiência de haver divergência entre meus laudos e os do IML. Os prédios da Criminalística e do IML ficam localizados numa área geográfica próxima e temos uma boa relação com os colegas legistas. Tenho certeza que quando existe a divergência, ela é sanada internamente, sendo analisada por mais colegas até o entendimento comum.

 

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) tem por objetivo propiciar o intercâmbio de perfis genéticos obtidos em laboratórios de perícia oficial, subsidiando a apuração criminal e a identificação de pessoas desaparecidas. Atualmente, o estado de Alagoas não participa efetivamente da RIBPG. Existe previsão de integração do laboratório de genética forense do Alagoas com a RIBPG? Quais os maiores desafios encontrados nesse processo?

O laboratório de genética da Perícia Oficial de Alagoas ainda não faz parte da Rede Integrada. Estamos passando, no momento, pela acreditação internacional do GITAD. Nosso maior entrave atual é que para fazer parte da rede integrada o laboratório precisa de, no mínimo, quatro peritos criminais, e nós no momento, só temos dois: eu e minha chefe. Outro gargalo é a estrutura física ideal. Acreditamos que até 2019 Alagoas fará parte da Rede.

Um dos maiores objetivos da coluna Papo com Perito é tentar esclarecer as diferenças entre a perícia da ficção e a da vida real. Hoje farei o inverso: de que forma você acredita que séries como CSI podem ser proveitosas a quem se interessa pela perícia? Já aconteceu de algum elemento da ficção (série ou livres) ter te ajudado em algum caso?

As séries e os filmes, que possuem o contexto da perícia criminal em geral, são interessantes pois permitem um “brainstorm” muito bom. Você se obriga a estar sempre pesquisando sobre determinada abordagem para ver, de fato, se ela já está disponível na prática, se não no Brasil, mas fora dele, nos centros de excelência como EUA e Alemanha (minha opinião). Em alguns casos de morte violenta, as próprias interpretações que são lançadas nos romances televisivos servem para que amplies tua capacidade de raciocínio e interpretação, já me ajudou em alguns, sim.

Os casos que evolvem a abordagem mais de laboratório, no meu caso, a genética forense, ainda não tive essa “ajuda” vinda das telinhas. Como te disse, eu, que realmente gosto e assisto e/ou já assiste diversas séries e filmes do ramo, sempre tento me atualizar com as técnicas e tecnologia apresentada.

 

Para finalizar, se você pudesse dar uma dica para quem almeja o cargo de Perito Criminal, qual seria?

Durante toda minha vida, desde a adolescência, os percalços com os quais me deparei em minha jornada me fizeram sempre ter em mente um tripé para obter sucesso na vida: estudo, perseverança e paciência. A dica e o único caminho para o sucesso de quem almeja esse caminho é o estudo. Não adianta, não há outro caminho. Você tem que resignar de algumas coisas durante sua jornada para focar de verdade nos estudos, nunca desistir e ter paciência, porque sua hora vai chegar, mais cedo ou mais tarde ela chega. Só não consegue quem desiste. Não é só a inteligência nata do ser humano que te faz passar em um concurso, é toda uma preparação, é saber como estudar, o que estudar e o principal: exercitar, exaustivamente, não apenas ler e fazer resumo, mas fazer questões. E não se esquecer de cuidar do corpo também, lembrem-se que na grande maioria dos concursos para perito criminal existe o teste físico, já dizia o ditado: Corpo são, mente sã. Bem, acho que já foram algumas dicas, mas tudo irá se resumir ao tripé que falei começo: estudo, perseverança e paciência. Não poderia finalizar sem agradecer mais uma vez a estimada Leilane, pelo excelente trabalho realizado e dar os parabéns mais uma vez pelas aprovações que ela tem conseguido nos concursos prestados. Leilane, tenha certeza que, aqui em Alagoas, a Perícia Oficial está de portas abertas para receber você. Obrigado e sucesso a todos.

A dica e o único caminho para o sucesso de quem almeja esse caminho é o estudo. Não adianta, não há outro caminho. Você tem que resignar de algumas coisas durante sua jornada para focar de verdade nos estudos, nunca desistir e ter paciência, porque sua hora vai chegar, mais cedo ou mais tarde ela chega.

Instagram: @biomedicocsi e @dr.marekhenryque