Essa é uma das questões que mais recebo, de pessoas que não sabem se têm o emocional ou psicológico para serem peritas criminais. E, embora seja algo muito pessoal, vim aqui comentar alguns pontos sobre o tema. Primeiro quero ressaltar que cada caso é um caso. Só nós temos o poder de procurar nos conhecer melhor e chegar à resposta pra essa e outras perguntas: é isso que você quer fazer para sua vida? Os prós da profissão superam os contras? Além disso, não é porque sou perita que sei a resposta. O que sei é que há gente “de todo tipo” na profissão. Alguns mais, outros menos sensíveis. E isso não afeta a qualidade do trabalho. Existem ótimos profissionais de ‘todo tipo de emocional’.

Primeiro gostaria de chamar atenção para o fato de que você pode ler todos os livros da área, ver todo tipo de série, mas você só saberá o tipo de realidade que precisará enfrentar quando estiver nela. O “psicológico” que você vai precisar ter vai variar dependendo do estado, da cidade, do setor em que você está lotado, dos seus colegas. A verdade é que todo perito precisa lidar com o pior da sociedade, com a violência, com o crime. Mas isso acontece em variados graus. E, pela perícia ser tão interdisciplinar, creio que quase sempre haverá a opção de trocar de cidade/setor caso você ache que pode se encontrar melhor em outro lugar. Ainda no mesmo cargo.

Todos passarão por um curso de formação (CF) antes de começar a exercer, de fato, o cargo. Provavelmente você já terá contato com o pior da perícia logo no começo. É quase de praxe que todos acompanhem perícias de local de crime, e até necropsias – no mínimo, verão muitas imagens fortes durante o curso. Todos devem se preparar para isso também, mesmo que queiram trabalhar em algo mais tranquilo depois – o que nem sempre é garantido, pois sua lotação geralmente depende mais da vontade da administração do que do órgão. Então, ao entrar na perícia, você tem que ter consciência de que poderá cair – quase que literalmente – em qualquer lugar. A regra geral é que é um cargo só, “perito criminal”, que depois do CF estará habilitado a fazer qualquer tipo de perícia: local de homicídio, de acidente de trânsito, documentoscopia, balística, ambiental, laboratorial etc (teoricamente!!). Nesse sentido, eu creio que, sim, precisa ter um mínimo de resistência a cenas fortes para enfrentar a profissão (MINHA OPINIÃO). Mesmo que você trabalhe na interna, sempre terá contato com as ocorrências, com as histórias, com outros peritos, imagens etc. Ninguém na perícia está imune à violência.

A verdade é que todo perito precisa lidar com o pior da sociedade, com a violência, com o crime.

Outro ponto é que você pode ter CERTEZA que quer isso, mas depois de entrar descobrir que não te realiza, que não é como esperava – e isso é perfeitamente normal, para tudo na vida. Estamos constantemente nos descobrindo, e sempre é preciso arriscar. Às vezes acertamos nas escolhas, às vezes mudamos de ideia, mas uma coisa é certa: nunca é tarde para recomeçar. Então eu não me preocuparia em “estudar anos para passar e depois descobrir que não quero isso”. Até porque, no meio do processo, você vai ter mais clareza do que realmente te faz feliz.

Então, para quem ainda está com dúvida se “aguenta o tranco” da perícia, eu recomendo que pesquisem muito sobre o cargo. Tenham em mente todas as funções que vocês poderão realizar, dentro da perícia. Se possível, visitem os órgãos de perícia da sua cidade, leiam entrevistas, conversem com peritos dos estados de interesse. Tente se conhecer melhor, seus limites e afinidades. Nenhum estado procura robôs ou psicopatas para a perícia (sensibilidade 0), mas é preciso conhecer o que você pode enfrentar para evitar um desgaste emocional ou uma escolha precipitada.